Em setembro deste ano, recebi uma mensagem pelo Direct do Instagram da Aline Bei oferecendo-me seu primeiro trabalho literário, um romance intitulado “O peso do pássaro morto”. Retornei a mensagem e combinamos a compra e o envio do seu livro. O livro foi lançado em 2017, e no ano seguinte recebeu o Prêmio São Paulo de Literatura. Não conhecia o trabalho dela, e fiquei encantado com o que vi. A jovem escritora me surpreendeu pela e na intensidade de sua escrita. Ela em sua produção, em suas linhas, com muita habilidade, mescla vigor e ternura, leveza e densidade. Somos impactados de todas a formas. Aline nos lança nas nuvens dos sonhos infantis e nos faz cair na rocha dura da realidade adulta, onde nem sempre os sonhos se realizam. O livro de Aline é daqueles que nos deixam com um gosto de quero mais, tipo das comidas saborosas que degustamos e de repente percebemos que o prato ficou limpo, mas adoraríamos que ainda tivesse mais e mais. O breve livro é composto de 168 páginas, dividido em 9 capítulos, cada um com uma idade da personagem principal 8, 17, 18, 28, 37, 48, 49, 50 e 52. Para um olhar superficial parecerá apenas marcações temporais, mas na verdade são platôs existenciais, são demarcações territoriais onde a vida acontece de forma intensa, são os momentos de singularidade que acompanham a narrativa como aqueles acontecimentos marcantes de nossas vidas, aqueles que nos atravessam e de tempo em tempo retornam como um fantasma para nos assombrar. Aline dosa estas idas e vindas da memória da personagem, sem produzir cansaço e nem sensação de repetição, muito pelo contrário, ela mostra em cada volta um detalhe não revelado anteriormente e, ao mesmo tempo, nos deixa ainda com uma interrogação, com isso a autora provoca o nosso pensamento com seu pensamento criativo. Como uma bela obra de arte, “O peso do pássaro morto” é instigante, provocativo e potente. Evidente que isso só é possível para quem se permite experimentar, degustar, saborear essas palavras, esta experiência do pensamento, sem ficar buscando significado disso ou daquilo. Nada de sentido, é preciso experimentar, deixar ser atravessado por essa experiência do pensamento produzido pela autora. Existe um pensamento central na obra, ele é visível para todos. Este pensamento é gestado lentamente a cada acontecimento vivido e sofrido pela personagem da Aline, qual é este pensamento? O que define que não existe cura para o sofrimento da e na vida. A primeira vista parece que nossa escritora é uma pessoa pessimista, porém, não é bem assim, na verdade, Aline sem citar (direta ou indiretamente) se liga a alguns pensadores da história da filosofia, tais como Nietzsche e Deleuze, que advogam essa ideia também. Para eles não há cura para os sofrimentos, para as dores, para as perdas, para essa sensação de falta de sentido (vazio existencial) porque isso não é uma doença na vida. A vida deve ser vivida em sua totalidade. Não devemos ficar lamentando e pesando os pássaros mortos da vida. Ela é uma oscilação entre alegria e tristeza, prazer e dor, que precisamos aprender a viver. Após a leitura deste breve livro posso dizer o que Aline escreveu:

Não me importo que seja breve o nosso encontro. Porque no tempo da minha memória somos para sempre. Não existe morrer dentro, é como uma canção [um livro]. As canções [os livros] não morrem nunca porque elas [eles] morram dentro das pessoas que gostam delas [ou deles]” (p.112).

Tenho certeza que essa experiência de leitura do livro da Aline foi a primeira e não será a última. Vou ler outras vezes e outras obras dessa jovem escritora, que logo no seu primeiro livro mostrou que tem muito talento. Leiam “O peso do pássaro morto“.

Parabéns Aline Bei e muito obrigado pela produção deste lindo livro.

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